19 de maio de 2011

Uma visita ao L'Abri Brasil

Placa na entrada
Desde que comecei a ler as obras de Francis Schaeffer e conheci um pouco mais de sua história, passei a sonhar com o seu centro de estudos, evangelização, devoção e relacionamentos: o L'Abri.

Pela providência divina, quando estava mergulhando na leitura do autor, outras pessoas estavam em viagem para os L'Abris europeus (mais especificamente da Inglaterra e Holanda), a fim de se qualificarem para abrir um branch no Brasil.

Mesmo de longe, acompanhei o blog do Guilherme de Carvalho e seus relatórios do ano que passou na Europa. Acompanhei as iniciativas de apoio e arrecadação, com o blog pró-L'Abri Brasil, e, finalmente, a aprovação pelo board internacional e os trabalhos iniciais da unidade, situada em Belo Horizonte.

À medida em que caminhava nas leituras schaefferianas, seguia sonhando com o dia em que conheceria o ambiente e as pessoas envolvidas com o trabalho. Lembro-me bem de visitar periodicamente o blog, observando os cursos, congressos, retiros de fins de semana, e termos de inverno e verão. Por mais de uma vez tentei me inscrever no congresso anual - em uma delas até efetuei o pagamento da inscrição - mas o preço das passagens sempre foi um empecilho, entre outras dificuldades.

Nesse intervalo, conheci a mulher que hoje compartilha a vida comigo. Ela me ouvia falar apaixonadamente das obras e idéias do tal "autor americano que fez um belo trabalho na Suíça, envolvendo filosofia, arte e o evangelho". Ela vislumbrou a perspectiva de cima: começou com leituras e pesquisa em Herman Dooyeweerd, que, através de Hans Rookmaaker, teve profundo impacto sobre o pensamento e a prática de Schaeffer. Conheceu as obra deste último e as leu posteriormente, mas também passou a gostar de seu pensamento e da proposta do L'Abri.

Quis a Providência que apenas depois de casados, pudéssemos conhecer o local. As coisas foram encaminhadas pelo Senhor de tal modo, que mais de um propósito foi realizado: além de conhecer as pessoas e o ambiente, também fomos com o objetivo de participar do I Seminário de Neocalvinismo da AKET (associação Kuyper para estudos transdisciplinares). Desta forma, aprofundaríamos as pesquisas em Kuyper, Dooyeweerd e Rookmaaker, e veríamos os desdobramentos disso em Schaeffer e no L'Abri.

Sob a direção do Altíssimo, conseguimos nos inscrever, comprar as passagens com preço promocional, e ainda perceber o encorajamento e apoio de nossa igreja. Como  é bom reconhecer que as coisas são providenciadas pelo Senhor no seu devido tempo!
Em cada quarto, um herói

Aliás, a história das passagens é digna de relato. Ainda em Fevereiro começamos a sonhar com o seminário. Mas dependíamos de preços razoáveis quanto ao transporte. O tempo passou, e em Abril consideramos novamente a possibilidade de ir, pois uma promoção de passagens estava em voga. Por alguma razão, não conseguimos comprar os bilhetes na ocasião, e quase demos por certa a nossa ausência no evento. Mas o Senhor direcionou as coisas, de modo que alimentamos o desejo de estar lá mais uma vez, e, em nova pesquisa por bilhetes aéreos, nova promoção foi lançada: finalmente iríamos!

É nesse contexto que nos organizamos para a viagem. A dificuldade de morar em um extremo do Brasil é que para visitar qualquer canto se passeia pelo país inteiro. Para chegar em Belo Horizonte fizemos o trajeto São Luís – Fortaleza – Brasília – Belo Horizonte. A volta foi um pouco menor, sem passar por Fortaleza. Ao  todo, fizemos 6.928 km. Para se ter uma idéia, do Rio de Janeiro à Cidade do Cabo, na África do Sul, são 6.036 Km. Mas eu fujo do assunto. Voltemos.

Chegamos a Belo Horizonte, e fomos muito bem recebidos pelo Igor Miguel, blogueiro do “Pensar”. Até então, só havia troca de e-mails, comentários no blog e tweets, mas o contato pessoal revelou uma pessoa bastante receptiva e vibrante. Acho que o pessoal em torno do L'Abri recebe uns treinos em “hospitalidade” - todos são bons na coisa. Uma rápida volta pela UFMG, e logo estávamos na casa do L'Abri, conhecendo Vanessa Belmonte, Guilherme de Carvalho e sua esposa Alessandra, e outro visitante: o paraense Jackson Salustiano.
Um corredor recheado de beleza

Apresentados à equipe e à casa, as impressões foram se disseminando. O ambiente é marcado pela combinação entre simplicidade e beleza. Os quartos, sem pompa, trazem lustres e luminárias confeccionados manualmente pela Alessandra (não sei se com a ajuda de alguém). O corredor também é decorado com quadros confeccionados à mão. Cada quarto traz uma placa sobre a porta, identificando-o com um referencial do pensamento de L'Abri. Encontramos: Wilberforce, Rembrandt, Kuyper e Schaeffer. Ficamos no quarto Rembrandt, com estrutura para casal.
A biblioteca: suficiente

A biblioteca não é das maiores. Uma rápida olhada na biblioteca pessoal do Guilherme de Carvalho me deu a impressão de que ele possui mais livros do que o L'Abri. Mas isso não deve enganar: os livros ali presentes são cuidadosamente selecionados, de modo que nenhum cumpre o papel de apenas “preencher espaço na estante”. Se, por um lado, a descrevi como “não tão grande” (leve-se em conta que, de algum modo, tenho o refencial da biblioteca do Andrew Jumper, que ocupa dois andares de um prédio – porém, com objetivo diferente do L'Abri), nem por isso pretendo dizer pouco abrangente. Os livros estão organizados em áreas distintas do pensamento – biografias, Kuyper e Dooyeweerd, Schaeffer, educação, psicologia, filosofia, autores de L'Abri, cultura e fé cristã, política, história da filosofia, arte, igreja emergente, economia, teologia reformada, entre outras categorias. Passei um tempinho considerável “namorando” algumas obras, e anotando nomes. Saí de lá com uma lista de 56 obras que pretendo adquirir aos poucos.
Os quadros estão em toda parte

Conhecemos a sala de estudos – um quarto com a coleção de Philosophia Reformata (periódico editado por Herman Dooyeweerd), uma mesa, uma luminária, uma cadeira, uma poltrona, o catálogo de palestras do L'Abri e quadros na parede. Os quadros estão por toda a parte. Já mencionei os confeccionados manualmente, mas há também pinturas clássicas. Reconheci o “noite estrelada”, de Van Gogh na sala principal da casa, e muito da pintura holandesa.

Almoçamos com o pessoal, ao som de um agradável jazz. Música permeia o ambiente de L'Abri, e isso me lembrou passagens dos registros de Edith sobre o gosto musical de Francis Schaeffer – especialmente os trechos no fim da vida dele, ouvindo Haendel enquanto o câncer (ou Deus) o levava aos poucos.

 O Seminário começou à noite, e pudemos conhecer mais pessoas, como Rodolfo Amorim, o casal Tijs e Kelly Van den Brink, e a Joyce, outra worker. Ouvimos palestras sobre o pensamento neocalvinista, ministradas por Rodolfo e Guilherme. Foi tarde, noite, e o primeiro dia.
Interações das palestras

O segundo dia foi corrido. Todo imerso no seminário. Pela manhã, e entrando na tarde, ouvimos comunicações orais, envolvendo o pensamento neocalvinista com as mais diversas áreas do conhecimento, como Teoria do Estado, Relações Internacionais, Pedagogia e Artes.

Cada comunicação era recheada de interações não apenas com autores respeitáveis, mas entre o próprio pessoal do L'Abri. Foi impactante perceber o quão intelectualmente rigorosos são aqueles irmãos, ao mesmo tempo em que, profundamente humilhante e estimulante. Humilhante no sentido de demonstrar o quanto ainda há para ser lido e conhecido por mim. Estimulante pelas exatas mesmas razões!

Neste segundo dia conheci mais irmãos, como o André Tavares, o Fred – um dos pastores da Caverna de Adulão – e suas respectivas esposas. Fiquei bastante feliz na troca de idéias com o Fred, por perceber sua compreensão teológica e o direcionamento da Caverna em bases calvinistas.
alimento físico e estético

Ainda ouvimos palestras sobre o narcisismo da cultura contemporânea, e críticas à perspectiva da cosmovisão cristã, bem como respostas a tais objeções. De fato, foi inovador perceber a ênfase ali dada à noção de que cosmovisão não é tudo. É preciso ir além, e forjar uma experiência cristã da realidade.

Novo jantar, e mais uma vez a combinação de alimento físico com sensorial. O L'Abri busca uma experiência integral, então uma simples refeição pode promover estimulação física – pela comida –, intelectual – pelas conversas –, e estética (luz de velas, flores sobre a mesa, jazz ao fundo...). Após as refeições sempre há trabalho voluntário. Lavamos a louça, arrumamos a sala, e servimos conforme a necessidade.

Ao fim do dia, tivemos agradável conversa com Guilherme e Alessandra, conhecendo mais de sua história e do L'Abri. Foi a ocasião para gravarmos uma breve entrevista, postada em seis partes no BJC.
Quando a gente volta?

Logo cedo no dia seguinte voltamos para São Luís. O curto período de tempo não restringiu a alimentação de nosso espírito. As marcas de irmãos em Cristo, comprometidos com uma experiência integral diante de Deus, e em levar todas as áreas da vida submetidas ao senhorio de Cristo, deixaram impressões tão fortes em nosso coração, que os posts, vídeos e relatos serão ainda descrições limitadas. Louvado seja Deus pela AKET, pelo L'Abri, e pelas pessoas que Ele vocacionou nesse país para tal obra.

5 comentários:

  1. Belíssimo relato! Adorei. Obrigado Allen por nos brindar com um relato tão sensível, o que não conseguimos descrever... L'Abri teve um papel muito importante na organização da minha espiritualidade. Sou muito grato a Deus por esta comunidade. Seria um enorme prazer termos mais tempo de convívio...

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  2. Muito bom, eu permaneço sonhando ja que nao pude ir no fim de 2009, até la vou lendo e conversando sobre, e de quebra me preparo também pra ir pra holland . PAX AT BONO

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  3. Allen,

    seu belo relato só fomentou mais ainda em mim o desejo de (também) conhecer o L'Abri. E fico mais entusiasmado ainda por ver a mão de Deus em cada detalhe dessa jornada tão cativante. Tenho certeza de que sua igreja sentirá os frutos dessa experiência que você teve junto com sua amada esposa. Parabéns!

    PS: Por acaso você não topou com o pessoal do Palavrantiga por aí? rs!

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  4. @Igor,
    O relato é honesto. As impressões foram as melhores =).



    @Diego,
    O Rodolfo ficou no L'Abri da Holanda. Troque umas idéias com ele!


    @Galdino,
    Eu queria ter encontrado os caras, mas descobri que agora eles moram no Espírito Santo. Parece-me que apenas dois da banda eram, de fato, de BH.
    Ë uma pena, mas quem sabe num futuro próximo a gente vai pra um show deles... =)


    Abraço

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  5. Oi Allen!

    Valeu o post cara. É difícil explicar o L'Abri - todo mundo pensa que é só um "centro de apologética", mas é muito mais do que isso. Vc acertou na mosca!

    Gui

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