18 de janeiro de 2010

Deus é amor

Deus é a soma de Seus atributos. Negar ou diminuir a importância de qualquer de suas perfeições é fazê-lo menos Deus do que Ele realmente é. De igual modo, dar proeminência a um atributo, destacando-o dos demais, é apresentar uma idéia deformada da divindade. Qualquer proposição que comece com "o principal atributo de Deus é..." é enganoso e tende a desembocar numa heresia qualquer. Os atributos de Deus estão em plena harmonia, um não faz sombra a outro.

Estas considerações são necessárias quando alguém se propõe a falar do amor de Deus. Pois é fato que alguns, ante os requisitos de Sua santidade e justiça, podem querer suplantá-los com uma dose extra do amor divino. Por outro lado, os convictos de Sua soberania na salvação correm o risco de atenuar a dimensão do amor divino. Devemos afirmar, contudo, que Deus não é nem mais e nem menos amoroso que santo e justo! Ele é tanto amor, como espírito e luz.

O amor de Deus significa que Ele se doa aos outros - na linguagem teológica se diz que o amor de Deus é sua auto-comunicação aos homens. Nele estão incluídos complacência, deleite, desejo de posse e comunhão com seus amados. Porque ama, Deus entrega-se para e pelos objetos do seu amor.

As características do amor de Deus

O amor é uma daquelas palavras difíceis de definir e, por isso mesmo, geralmente mal compreendida. Se isso é verdade em se tratando do amor entre os homens, quanto mais então quando se trata do amor de Deus. É comum a idéia do amor de Deus como indulgência ou fraqueza. Para muitos, um Deus de amor é igual a um avô assistindo as travessuras de seus netos, maneando a cabeça enquanto diz "essas crianças...". Claro que não é assim que a Bíblia revela o Deus de amor.

Deus ama eterna e livremente. O amor de Deus não depende de nós, não é despertado por nós, mas flui livre e puro das profundezas do ser divino. Quando não havia nenhuma criatura para amar, as pessoas da Trindade amavam-se mutuamente. Jesus orou ao Pai dizendo "porque tu me amaste antes da fundação do mundo" (Jo 17:24) e fazia questão de "que o mundo saiba que eu amo o Pai" (Jo 14:31). Além disso, o seu amor pelas criaturas precede qualquer feito realizado por elas que justificasse serem amadas. "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1Jo 4:10). Já no Antigo Testamento Deus dizia "com amor eterno te amei; também com amável misericórdia te atraí" (Jr 31:3).

Deus ama de forma imutável. O amor de Deus não sofre variação, não aumenta nem diminui, não aparece nem desaparece. Não há nada que alguém possa fazer para Deus amá-lo mais, e nada que um filho Seu faça O levará a amá-lo menos. O amor de Deus não está sujeito ao tempo ou ao espaço, mas vem da eternidade para o coração dos filhos de Deus. O amor de Deus é absolutamente digno de confiança, mesmo na morte podemos desfrutar do cuidado amoroso do Pai. De Jesus é dito que "como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13:1).

Deus ama infinitamente. Seu Deus infinito e sendo Deus amor, decorre que Seu amor é infinito. João diz que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" (Jo 3:16). Paulo declara que "Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5:10). A linguagem humana falha em tentar expressar a dimensão do amor de Deus, pelo que os autores inspirados recorrem a expressões como "de tal maneira", "Deus prova" e "seu muito amor com que nos amou" (Ef 2:4).

Deus ama de forma onipotente. Não existe força no céu, na terra ou no inferno capaz de quebrar o amor de Deus por nós. A Carta aos Romanos nos dá a certeza de que "nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8:38-39). O poder de Deus está a serviço de Seu amor e nada pode tirar dEle aqueles a quem ama.

O amor de Deus está intimamente relacionado com Sua misericórdia e graça. O amor de Deus se manifesta em misericórdia quando Ele não nos dá o que merecemos. É pelo amor de Deus que alguns não são condenados. E se manifesta em graça quando nos dá aquilo que não merecemos, pois é pelo amor de Deus que somos salvos. Portanto, o sermos livrados do inferno e o sermos conduzidos à glória, devem-se ao fato de que Deus é amor.

O amor de Deus é consistente com a eleição

Tendo feito a afirmação de que somos salvos pelo amor de Deus, ouvimos a objeção de que as doutrinas da graça, conforme entendidas pelos calvinistas, são inconsistentes com o amor de Deus. Porém, a verdade ensinada nas Escrituras prova ser esta objeção destituída de fundamento.

A Bíblia diz "eu amei a Jacó, mas rejeitei a Esaú" (Ml 1:2,3). Paulo menciona que essas palavras foram proferidas antes do nascimento dos gêmeos, exatamente para que "o propósito de Deus conforme a eleição prevalecesse" (Rm 9:11-13). Deus não teve afeição por Jacó porque este tinha alguma atração, Ele teve afeição porque amou (Dt 7:7-10). Deus o amou porque o amou e o escolheu porque o amou, não dá para ir além disso.

Noutra carta os crentes são chamados de "eleitos de Deus, santos e amados" (Cl 3:12). Não deve restar dúvidas de que é Deus quem elege, a referência bíblica é aos "eleitos de Deus" (Tt 1:1), como quando a Escritura diz "sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus" (1Ts 1:4). Sendo o agente da eleição o mesmo Deus de amor, não há nenhuma inconsistência entre amor e eleição, pelo contrário, esta decorre daquele. Por isso Paulo dizia "devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação" (1Ts 2:13). O mesmo pode ser dito sobre a predestinação, pois as Escrituras registram que Deus "em amor nos predestinou para ele" (Ef 1:4-5). Deus não elege e predestina apesar do Seu amor, Ele elege e predestina por causa do Seu amor.

Porque Deus é amor, devemos amar

O amor é uma qualidade que Deus comunica a nós. Nós O amamos e amamos o próximo porque Ele nos amou primeiro. Aliás, somente quando observamos a atividade de amar é que descobrimos como amar. Pois não descobrimos Deus através de nossas experiência com o amor, descobrimos o amor através de nossa experiência com o amor. Só somos capazes de amar verdadeiramente quando nosso amor é reflexo do amor de Deus em nós. E a prova de que o conhecemos é quando amamos seguindo Seu exemplo.

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras (quase todas).

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